Vamos falar sobre o Bruno!
- Aline Bandeira
- 13 de dez. de 2024
- 2 min de leitura

A animação Encanto oferece uma rica metáfora para entendermos como lidamos com nossas emoções e histórias pessoais, especialmente quando pensamos no personagem Bruno e na forma como sua família o percebe. Cada membro da família Madrigal tem uma relação diferente com ele, que reflete diversas formas de encarar conflitos e desafios emocionais. Essa dinâmica pode ser interpretada como uma analogia para as experiências dos pacientes em psicoterapia.
Abuela Alma, por exemplo, representa a negação e o ressentimento. Ela evita confrontar o impacto das pressões que coloca na família, vendo Bruno como uma ameaça ao equilíbrio que ela tanto valoriza. Isso nos lembra de pacientes que resistem a revisitar aspectos dolorosos de sua história, preferindo manter uma fachada de harmonia. Já Pepa, com sua frustração e reações explosivas, simboliza aqueles que externalizam suas emoções sem compreender completamente suas origens. Em terapia, essas pessoas podem aprender a explorar suas reações e encontrar formas mais saudáveis de lidar com seus sentimentos.
Por outro lado, Julieta é uma figura de empatia e aceitação. Ela continua a cuidar e se preocupar com Bruno, mesmo na sua ausência, demonstrando a importância de acolher nossas vulnerabilidades em vez de rejeitá-las. Mirabel, com sua curiosidade e determinação, reflete o espírito explorador de quem entra na terapia disposto a compreender e integrar partes de si mesmo, mesmo que isso signifique encarar medos e desconfortos.
Isabela e Luisa nos mostram outras facetas dessa jornada. Isabela começa indiferente à ideia de Bruno, mas aprende a admirar aquilo que inicialmente parecia "fora do padrão". Essa transformação reflete o processo de pacientes que descobrem o valor em aspectos de si mesmos que antes ignoravam ou desconsideravam. Luisa, por sua vez, traz a culpa e o peso das expectativas, que muitas vezes sobrecarregam quem sente a necessidade de ser forte o tempo todo. A terapia pode ajudá-los a entender que vulnerabilidade também é uma forma de força.
Dolores vive o dilema de saber a verdade, mas temer expressá-la, como muitos que entram em terapia carregando segredos ou medos de julgamento. Sua jornada nos lembra que dar voz às nossas verdades pode ser libertador e transformador. Por fim, o próprio Bruno simboliza as partes de nós que foram isoladas ou rejeitadas, mas que, ao serem reintegradas, têm o poder de nos tornar mais inteiros e autênticos.
Assim como a família Madrigal, todos carregamos histórias, emoções e partes de nós mesmos que nem sempre compreendemos ou aceitamos. A psicoterapia é esse espaço de acolhimento e transformação, onde podemos revisitar e ressignificar essas experiências, como em Encanto. Reconhecer e integrar nossas “partes Bruno” pode ser um passo essencial para a cura e o autoconhecimento. Afinal, ao contrário do que a música diz, talvez seja hora de falar sobre o Bruno — e, quem sabe, sobre todas as partes de nós que precisam ser ouvidas.
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